CADERNOS
do GREI
A partir duma reflexão sociopsicológica, este texto procura perspetivar as origens da crise portuguesa, contextualizando as suas circunstâncias político-económicas, assim como as subjacentes dimensões sociais, psicológicas, éticas e culturais. Através de um ponto de vista crítico e comprometido ideologicamente, pretende-se compreender a ascensão dos novos super-ricos globais, isto é os plutocratas, e as suas consequências para a presente situação mundial.
Acordai homens que dormis a embalar a dor dos silêncios vis (…). Acordai raios e tufões que dormis no ar e nas multidões, vinde incendiar de astros e canções as pedras do mar o mundo e os corações.
Acendei de almas e de sóis este mar sem cais nem luz de faróis e acordai (…) os nossos heróis que dormem nos covais.
José Gomes Ferreira in Acordai – letra de “Canção de Luta” musicada por Fernando Lopes Graça (1945)
Uma reflexão sociopsicológica sobre as origens da crise portuguesa.
O iluminismo do século XVIII, ao exigir o reconhecer do entendimento individualista como interesse supremo, traduzia a emergência de categorias mentais correspondentes, de certo modo, à estrutura da troca comercial, núcleo da nascente sociedade burguesa.
No Século da Luzes, esta situação correspondia a uma dominação de classe por parte de um minoria que era concebida como resultado de uma conspiração levada a cabo por alguns privilegiados; apesar de criticada, esta relação de sujeição não foi esclarecida, na medida em que não se reconheceu o seu subjacente condicionamento económico. Por isso, esta ideia foi abandonada mais tarde, embora, sob alguns aspetos, volte a ter atualidade.
Partindo deste pressuposto, se se quiser contribuir para “mudar o mundo”, é indispensável compreender o âmago do império dos plutocratas e as teias com que nos envolvem. Para tornar isso possível, deve-se adotar uma perspetiva baseada numa epistemologia da complexidade que evite uma visão reducionista e superficial da presente crise civilizacional.