CADERNOS
do GREI
O Homem é um ser naturalmente relacional, e as interações que desenvolve na sua dimensão espiritual – seja com o Divino seja com outros que partilham a mesma visão do mundo – modelam a forma como vive e interpreta os acontecimentos da sua vida, mesmo em momentos críticos, podendo funcionar como promotores de estados de saúde e bem-estar.
O Deus (…) autor das verdades geométricas e da ordem dos elementos (…) que exerce a sua providência sobre a vida e sobre os bens dos homens (…) é um Deus que enche a alma e o coração daqueles que possui (…) que se une no fundo da sua alma (…).
Blaise Pascal
in Pensées (1670)
A evolução espiritual como fator de saúde e bem-estar psicológico.
O modelo de visão biopsicossocial do ser humano, à luz das investigações mais atuais, revela-se muitas vezes redutor na explicação do funcionamento do Homem por excluir uma das suas facetas fulcrais que é a capacidade de estabelecer relações com o Sagrado, a qual lhe permite transcender, dessa forma, o tempo e o espaço interacionais.
A espiritualidade assume assim um papel importante e moderador no quotidiano daqueles que adotam crenças, comportamentos e interações baseadas na existência de algo extraordinário, que ultrapassa os poderes e as perspetivas limitadas das suas vivências comuns.
Neste contexto, a relação com o Sagrado é um processo interminável que evolui ao longo da vida dos sujeitos e que, ciclicamente, implica novas descobertas acerca das características do Divino, esforços para manter e fomentar a ligação, e, por vezes – quando as situações do quotidiano são adversas e trazem alguma inconsistência à relação –, transformações que podem vir acompanhadas de crescimento espiritual.
A prática espiritual acompanha-se de uma tomada de perspetiva que descreve a forma como o Divino atua com os indivíduos e com o mundo. Esta construção de sentido, sobre como os acontecimentos ocorrem e se sucedem, facilita aos sujeitos a criação de uma compreensão e explicação pessoal acerca das suas experiências de vida.