CADERNOS
do GREI
A construção da pessoa resiliente é um processo evolutivo singular que caracteriza cada sujeito quando confrontado com a adversidade. Nesta perspetiva, a resiliência traduz-se numa capacidade para mobilizar estratégias de superação das situações desfavoráveis, através de uma configuração de significados subjetivos indissociável dos contextos de desenvolvimento pessoal, cuja compreensão é facilitada pelo carácter inovador da psicologia positiva.
Para sermos plenamente nós mesmos (…) é no sentido de uma convergência com tudo o resto (…) que temos de avançar.
O termo de nós próprios, o cúmulo da nossa originalidade, não é a nossa individualidade – é a nossa pessoa.
Pierre Teilhard de Chardin in Le Phénomène Humain (1948)
Dos contextos de desenvolvimento à psicologia positiva.
A construção da pessoa resiliente deve ser entendida como um processo de desenvolvimento cuja complexidade possibilita consubstanciar a forma como as estruturas mentais evoluem e se diferenciam face às circunstâncias do real, de modo a contextualizar as estratégias cognitivas inerentes à dialética da resiliência.
A relevância e a centralidade desta temática revestem-se, contudo, de alguma ambiguidade conceptual, o que torna indispensável clarificar várias das suas facetas, a fim de evidenciar a sua importância como conceito unificador e explicativo no quadro da psicologia. Nesse sentido, a par com uma breve revisão histórico-conceptual sobre o surgimento deste constructo, serão destacadas algumas das suas principais tendências e enunciar-se-ão determinados referenciais particularmente promissores para abordar questões antigas sob novos ângulos.
Por outro lado, sublinha-se a importância, em termos de desenvolvimento psicológico, do equilíbrio permanente entre estabilidade e mudança na pessoa resiliente, ou seja, o balanço entre a preservação da própria identidade e a transformação dos esquemas mentais quando do confronto com a adversidade; por esse motivo, torna-se necessário equacionar a (re)construção do sistema pessoal, através de uma reequilibrarão entre as estratégias prévias e os novos modelos construídos em função de condições perturbadoras ou inesperadas. Para além disso, evidenciam-se alguns dos fatores subjacentes a este processo, em contraponto a uma concepção que considera a resiliência como uma capacidade específica estável e sincrónica.