CADERNOS
do GREI
A violência entre pares/bullying é noticiada quase diariamente pelos media. Apesar das consequências nefastas para o futuro de crianças e jovens, parece não se conseguir resolver a espiral de violência que grassa nas nossas escolas. A Família e a Escola, pilares da educação e construção do futuro, são peças fundamentais na resolução deste flagelo e na construção da Paz.
O Nelli, que é o corcundinha (…), trabalha o mais que pode; mas é tão magro e tão fraco que mete dó. (…).
Nos primeiros dias, por ser corcunda, muitos rapazes faziam torça dele e batiam-lhe nas costas com as malas; mas ele nunca dizia nada, nem se queixava à mãe (…).
Muitas vezes chorava sozinho ao canto da carteira.
Edmondo De Amicis in Cuore (1886)
Os caminhos escondidos da infância.
As vivências dos indivíduos são indissociáveis do local onde se encontram. Cada um de nós insere-se no seu próprio contexto ecológico (Bronfenbrenner & Morris, 1999) e todas as nossas experiências convergem para nos tornarmos nós próprios, seres únicos, diferentes e indivisíveis e, sempre, especiais.
Se por um lado a abertura de fronteiras tem contribuído para um melhor conhecimento do Mundo, para o desenvolvimento da tecnologia e dos canais de comunicação e de um maior conforto para uma parte da população mundial, não parece, por outro lado, que a sociedade multi-cultural tenha contribuído para o desenvolvimento tão esperado e desejado de uma cultura de Paz.
Com efeito, continuamos a assistir a relatos de guerra, fome, miséria e violência (em casa e na comunidade) em todas as partes do Mundo, mesmo nos países que atingiram supostamente um elevado nível de desenvolvimento humano.
A família, local onde devemos encontrar carinho e proteção, pode tornar-se um local de violência, quer física, facilmente detetável, quer psicológica, que deixa escondidas marcas indeléveis no desenvolvimento do autoconceito e na autoestima de crianças e jovens. A violência familiar ocorre em todos os países e em todas as classes sociais, pelo que não é exclusiva das comunidades pobres (Emediato, 2015).