CADERNOS
do GREI
Este texto apresenta uma revisão da literatura relativa à interação entre os fatores de risco familiar, a parentalidade e a vulnerabilidade psicossocial. Procura-se, sobretudo, compreender a relação existente entre algumas perturbações psicopatológicas dos adolescentes e a incidência de certas circunstâncias de vida que comprometem os recursos parentais, fomentando um eventual sofrimento psíquico e uma concomitante manifestação de dificuldades emocionais e comportamentais.
Os filhos dos pobres definiam-se por não irem à escola, serem magrinhos e morrerem muito. Ao perguntar as razões destas características insólitas foi-me dito com um encolher de ombros – o que é que o menino quer, esta gente é assim – e eu entendi que ser pobre, mais do que um destino, era uma espécie de vocação, como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano.”
António Lobo Antunes in Livro de Crónicas (1998)
Recursos parentais e problemas psicológicos na adolescência.
Segundo o modelo preconizado por Erik Erikson, a maioria dos
adolescentes supera esta fase da vida – e os seus desafios desenvolvimentais – sem qualquer dificuldade em realizar com sucesso as tarefas psicossociais indispensáveis à aquisição de uma identidade adulta. Com efeito, embora o stresse e a adversidade representem riscos para o desenvolvimento psicológico, a sua anterior ocorrência tem revelado pouca especificidade diagnóstica na previsão de eventuais perturbações de natureza psicopatológica no decurso da adolescência.
No entanto, segundo alguns estudos empíricos, observa-se um aumento da ansiedade e da depressão na transição da infância para a adolescência, o qual, embora confirmando as características próprias desta etapa do desenvolvimento, tem facultado provas do impacto dos aspetos contextuais na expressão do mal-estar psicológico nos adolescentes.